Thursday, January 11, 2007


Sobre a Inexistência do Mal e outras Bobagens
Meus amigos por vezes se surpreendem com o fato de que não acredito no mal. Não, pelo menos, como se fosse algo real. É como se as coisas do mal não existissem para mim – ou, melhor dizendo, não fossem reais.

Quando falo isso, não quero dizer que nunca fiz ou me fizeram nenhuma “maldade”. Nem que não acredito na “maldade” das coisas ou das pessoas. Mas, verdadeiramente, não acredito que o mal tenha uma existência autônoma (explicarei a seguir), podendo existir por si só. E, definitivamente, não acredito em demônios ou feitiços.

Muita gente ainda vê o mundo segundo o Zoroastrismo. Como se sabe, o Zoroastrismo era a religião da Suméria antiga, uma das primeiras civilizações da humanidade (muitos cientistas falam que foi a primeira, mas duvido). Segundo essa fé, duas grandes forças atuariam sobre o Universo (o mundo): O bem e o mal. Essas grandes potências estariam em uma batalha constante por nossos corações e mentes, ora prevalecendo um, ora prevalecendo outro. Isso, com variações, é o que a grande maioria de nós acredita.

Esse raciocínio tem suas implicações. A maior delas é acreditar que no mundo das coisas não-criadas (e portanto, eternas, das coisas fora-do-tempo) existirá o bem e o mal. Deus seria o autor do bem, e (cruzes) o diabo seria o autor do mal.

Deixem-me interromper o raciocínio um pouco, tem um sabiá cantando (...)

Pois bem, como ia escrevendo, a conseqüência fatal dessa idéia é acreditar que fora-do-mundo existe tanto o bem como o mal, que ambas as coisas são reais e que estão em uma luta tremenda para ganhar o universo. Demonstramos acreditar nisso, por exemplo, quando admitimos que os pensamentos bons são obras de Deus e de seus anjos e os ruins do coisa-feia e de suas hostes. Ou, por exemplo, quando cremos que um espírito maligno, por si mesmo, pode nos fazer algum mal.

Em síntese: Que além de nós exista o Bem e o mal, Deus e o diabo.

Eu não penso nada disso. Minha elucubração teológica é um pouco diferente. Acredito que além do mundo só há Deus, que Ele é o Espírito, e que ele é Amor. Note: Além das coisas criadas, só há Deus, nada mais. Porque penso assim?

Se Deus é Deus, logo, Ele é Todo-Poderoso e todo Amor. Noto, Deus não é amoroso, ele é o Amor em si. Se não for Todo Poderoso e se não for Amor, não seria Deus. Deus é aquele que É! Ele é toda a onipotência e bondade que imaginamos e a que não podemos imaginar. Como ele É, então, Todo-Poderoso e Todo-Amor, ele não admitiria a existência do Diabo nas coisas fora do mundo. Mesmo se este último realmente existisse, como não é Deus, contra o Pai nada poderia fazer, porque Ele é a Onipotência em Si.

Portanto, ao pensar sobre a natureza de Deus, conclui-se que além do mundo só pode haver Deus. Se isto não fosse certo, devo repetir, então, não seria Deus, mas só um cara muito, muito poderoso, em luta com outro ser muito, muito forte. Mas assim não-é, porque o Todo-Sagrado é Todo-Onipotente.

Com efeito, há, então, duas coisas: O mundo criado e Deus (Não gosto de falar que Deus existe. Deus é Incriado. O verbo existir deve ser aplicado para as coisas criadas. Existe porque foi “criado”, porque “nasceu”. O Senhor É além disso! Ele mais-do-que-existe).

Sem embargo, mesmo para os que acreditam no mal, foi Deus quem criou o universo e o homem. E de fato, foi, pois só Ele pode Ser (ou seja, existir fora, além-do-mundo). Aqui reside outra idéia fundamental: Como Deus quis que pudéssemos amar, Ele nos criou livres. Podemos tomar as decisões que quisermos, pensar o que seja, desejar o que for. Somos livres. Assim Ele o fez porque não existe amor sem liberdade. Ninguém pode ser obrigado a amar. Só pode haver amor num ato de liberdade. Porém, ao permitir que fossemos livres, permitiu também, nosso Pai, que pudéssemos praticar o mal. Ou seja, a liberdade que temos para amar, será a mesma que temos para o mal, para o desamor.

Daí que o mal, quando e se existir, será fruto dos atos e do pensamento humano, conseqüência inequívoca de nossa própria liberdade.

Outra coisa que merece ser lembrada é que Deus-Pai não criaria coisas maldosas. Ele cria seres livres, que podem praticar tanto o bem como o mal e coisas neutras, que podem ser usadas tanto para o bem, como para o mal. Mas não criaria seres do mal, demônios ou espíritos malignos, ou coisas essencialmente ruins. A razão também é clara. Deus é Amor. Se não fosse Amor, não seria Deus. Como é Amor, e como Ele criou tudo o que há, não há coisas ruins criadas por ele. Quem é Amor só dá frutos de amor. Destarte, não se pode duvidar que as coisas ruins que existem são conseqüências nossas, coisas que advieram da nossa liberdade.

Por isso mesmo não acredito que possa haver espíritos do mal, demônios ou coisa assim. O coisa-ruim não poderia criar nada assim, Deus não o permitiria (na verdade, se o diabo pudesse criar, Deus não seria Deus. Mas Deus É o que É, “Sou aquilo que Sou”). Se existirem, são frutos dos atos e dos pensamentos humanos e, portanto, podem ser combatidos com pensamentos e atos bons, já que não terão qualquer força própria, não podendo existir sozinhos, sem nós.

Assim, ao invés de acreditar no mal, prefiro compara-lo com o zero, que precisa do número para valer. Ou com o nada, que só é notado quando se percebe algo. Ou com o vazio, que só se preenche com alguma coisa. Como a ausência de Deus, que só se preenche com Deus... Mas essa, enfim, é uma outra história.

6 Comments:

Blogger Mariney Santana said...

"não existe as trevas ... apenas a ausência de Luz".
Leo, adorei!
abraços
Mary

7:19 AM  
Blogger Luiz Roberto Lins Almeida said...

Leo, acho que o mal existe, cara!, não dá pra evitá-lo.
Se existe a fonte do amor e do bem, deve existir a fonte do mal. O que existe na espécie deve existir tbm no universo, não?
talvez eu esteja só viajando demais... mas seu texto, como sói, está ótimo.

1:12 PM  
Blogger Cristiano Contreiras said...

mas o mal pode ser um bem útil e vice-versa? sim, pode.

4:25 PM  
Blogger Samurai do Pantanal said...

Sábias palavras, meu professor!!!
Em síntese, com toda a propriedade, você descreveu o conceito de Deus para a doutrina espírita.
Um grande abraço!!!

7:46 PM  
Blogger Scammer said...

Oi, eu achei o blog por acaso e vim ler.
... Se não acredita, sabe que ele existe, se ele não é real, materializa na pessoa de forma não programada.
Como não acredita em demônios ou feitiços se gosta de figuras que simbolizam, mostrado no seu blog, se a afetividade da figura, não vem de algo incomum de quem descreve.
O mundo das coisas não criadas não é algo além do que é criado, se criado passa a existir e isso que fica entre o bem e o mal¿
Eu achei fabuloso o que escreveu nos parágrafos abaixo deste trecho: “ Deixem-me interromper o raciocínio um pouco, tem um sabiá cantando (...), suprime, o que vem descrito,viu!!
...
Estou descrevendo minhas indagações quando lia o seu texto, o final dele é bem didático.
Se Deus criou pessoas boas e somos transformamos em busca de algo, não deveria existir o mal, se não existisse o mal, não viveríamos em uma sociedade de amor e não conheceríamos o amor, então o mal seria apenas fórmulas transformadas em amor, praticaríamos o bem sendo o mal, uma sociedade de faz de conta do próprio mal, já que Deus é único. COSTA

9:00 PM  
Blogger Unknown said...

Raciocínio muito coerente e interessante! Entretanto, me pergunto se podemos encaixar totalmente os assuntos sobrenaturais dentro dos raciocínios humanos... Não seria muita pretensão de nossa parte, seres criados que somos?

5:24 AM  

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