Monday, June 26, 2006

Cristo Basileu
Sempre gostei muito de imagens religiosas, especialmente as de origem bizantina. Essa acima, por exemplo, é do séc. XI, e está na magnífica igreja de Hagia Sofia, em Istambul. Representa o Cristo-Monarca, no seu trono, rodeados pelo imperador e pela basilissa (imperatriz).
Os bizantinos acreditavam que eles eram o novo povo de Deus, a sociedade escolhida na Terra para levar a fé aos outros povos. Não sem razão, os imperadores sempre procuravam justificar sua ascensão ao trono segundo um favor divino. Os imperadores (Basileus) seriam verdadeiros representantes de Deus na Terra. Curioso notar, entretanto, que nunca governavam em nome próprio, e sim em nome do Cristo-Deus, Ele sim, verdadeiro monarca (daí a expressão Cristo-Basileu).
Se imaginarmos que nossa vida é um reino, dom de Deus, se torna muito bacana a aplicação da mística acima.
Não se deve acreditar, por outro lado, que a própria imagem é o Senhor. Ao contrário. A imagem é "santa" apenas na medida em que nos lembra da existência do transcendente, do Espírito. Mas ela jamais deve se confunde com Ele, sob pena de comertermos idolatria.
Essa era uma preocupação, aliás, que atormentava os próprios bizantinos. Com efeito, durante sua época negra, no século VIII, o império do Oriente chegou a proibir a veneração de imagens, tal como o islã faz. Na época, os bizantinos pensaram que suas derrotas no campo de batalha eram punição de Deus, devido ao "culto" de imagens. Depois, porém, se assentou a idéia de que imagem não é, nem deve, ser adorada (imagem não é Deus), mas sim, venerada, de maneira que logo no começo do século IX elas voltaram a ser permitidas pelo Estado.
Bom para a civilização, já que isso permitiu a feitura de alguns dos mais bonitos mosaicos que o mundo conhece, como esse da foto acima.
Outra coisa curiosa dessa imagem é a presença de uma mulher, a imperatriz. Com efeito, na sociedade bizantina as mulheres gozavam de relativa independência e autonomia, em relação aos demais povos. Aliás, em nenhuma outra sociedade medieval do século XI se iria retratar a esposa do rei em uma figura oficial. Com efeito, Bizâncio é o único estado medieval onde existiram Rainhas, que governavam sozinhas ou em nome dos filhos (e não em nome do marido).
É legal perceber quanta informação, além de beleza, pode se enconder atrás de uma simples imagem.
Bizâncio morreu há muito tempo. Mas algo de seu espírito vive dentro de mim.
Grande abraço a todos.

Thursday, June 22, 2006

Cachorro-do-Mato

Quem é que nunca viu um Cachorro-do-Mato andando por aí? Esse bicho é um dos meus favoritos, grande companheiro de andanças, que por vezes dá o ar da graça quando passeio pelo campo ou pela mata. Esse ano tive a alegria de ver uma família inteira, pai-mãe e filho - olha aí a trindade novamente - quando chegava na fazenda, em um desses fins-de-tarde maravilhosos que nosso Estado têm.
É um animal que sempre povoou meu inconsciente. Acho que foi o bicho que mais vi na minha infância, inclusive bem na frente da casa da fazenda, à noite. Acreditava, à época, que existia uma espécie de cachorro-do-mato com o rabo branco. Cheguei até a escrever a respeito, anos atrás. Uma das minhas primeiras e raras crônicas. Daquelas que não gosto muito sabe? Porque revelam muito o que sou.
___________________
“A raposa saiu pulando em frente do carro. Saltos longos. Meu Deus! Quanto atrevimento! Está bem em frente da sede da fazenda. Por certo, procurando galinhas ou outros petiscos quaisquer. Como é bonita... Cinza, pelos crespos, com a ponta do rabo branco.”

- Dr. Leonardo, Dr. Leonardo!

O homem finalmente despertou do sonho. - Que foi?, resmungou, bravo, como se tivessem lhe tirado a tranqüilidade. Era algo qualquer, nada muito importante, como já antecipava. Logo agora! Estava tão longe! - Não quero ser incomodado!, falou. Ele remexeu a cadeira, ajeitou-se atrás da mesa e fingiu que iria trabalhar. Bobagem. Logo que a porta se fechou, a gaveta dos sonhos foi aberta.

A terceira gaveta da mesa do Dr. Leonardo é a gaveta dos sonhos. É terminantemente proibido, no escritório, que alguém mexa nela. Algo muito esquisito em se tratando do Dr. Leonardo. Dizem que ele é uma pessoa alegre, fácil de conviver, apesar de ser um pouco sistemático. Não parecia naquele dia. Sua secretária achou que ele estava apaixonado, - Só uma mulher para deixá-lo daquele jeito, foi o que ela disse - Que nada, era o cachorro do mato, o homem das leis e do estado gosta mesmo é de pensar nos seus bichos.

Qualquer um que visse o conteúdo da gaveta dos sonhos saberia, imediatamente, porque era absurdamente proibido mexer ali. Na realidade, nela não havia nada de importante. Só livros sobre animais selvagens. Mas estes revelavam um Dr. Leonardo que ele não fazia questão de mostrar para ninguém. Ali, na gaveta, o Doutor guardava seus sonhos, sua criança, aquela que se alimenta de idéias e desejos. Vocês bem sabem que criança solta só faz bagunça, não? Então, decidiu-se que aquela criança deveria ficar na clausura.

“Bem em frente à camionete, bem em frente! Sempre à noite. E... de fato, é diferente daquele outro, que a gente vê de tardezinha. Esse só sai a noite. Olha como corre! E com a ponta do rabo branco!”

Ele mexia apressado por entre os livros. Até retirar um. Era sobre mamíferos. Logo estava na secção de carnívoros. Cachorros. Olhou, leu e leu, como se nunca tivesse lido. Mas nada sobre um cachorro com a ponta do rabo branco que habitasse o cerrado brasileiro.

“De novo! Na estrada, em frente da camioneta. Como é bonito! Sempre na borda da mata ou no descampado. É animal típico do cerrado. Olha como ele tenta fugir do carro. - Devagar pai! - Pode assustar o lobinho!”

Dr. Leonardo bem sabia, apesar de ter procurado novamente naquele livro, que não havia nada que falasse, na literatura zoológica, sobre um lobinho de rabo branco que habitasse as matas brasileiras. Não obstante, sua ansiedade sempre o levava a procurar uma vez mais, na esperança de ter alguma notícia sobre o animal, como se ele pudesse ter esquecido de folhear alguma página, naqueles manuais todos.

A conclusão óbvia, acreditou ele, era por demais fantástica: a ciência desconhecia esse animal. Isso na aurora do século XXI!

“- O senhor vai sentar aonde? Aqui, pois bem... - Obrigado, respondeu o jovem rapaz, que, logo após se ajeitar na poltrona, pegou um volumoso manual de bichos. Sua leitura não demoraria nada, tendo sido abruptamente interrompida com a pergunta: - O sr. estuda biologia?, indagou o homem de barbas escuras e óculos, sentado ao seu lado no avião. - Não, faço pós em Direito, foi a resposta surpreendente. - É que também gosto de ecologia e ciências afins. Nas horas vagas, para distrair, tento ler a respeito. E o Sr.? - Sou Professor de Ecologia na USP. Os olhos do jovem brilharam. Tirei a sorte grande, foi o que ele pensou. Logo conversavam animadamente, a ponto de incomodar os vizinhos de viagem. - Sabe Doutor, quando era criança, via sempre na Fazenda uma raposa com a cauda branca. Porém, na literatura especializada, não há nada a respeito. Faz muito tempo que não vejo mais. Às vezes acho que tudo foi um sonho. Mas o bicho estava lá, juro, o vi mais de uma vez, sempre a noite, no descampado, pelos cinzas e crespos, menor que o Dusicyon thous ou que o Dusicyon velutus, e com a ponta do rabo branco...! - Não sei Leonardo, pode ser uma variação genética qualquer de um canídeo na região. Vou falar com um especialista a respeito e te mando um e-mail.”

Ele engoliu o café, não o saboreou. Hora de voltar à realidade, pensou. Havia um monte de papéis sobre sua mesa, todos eles clamando por um pouco de atenção. Sem muito entusiasmo, pegou um deles. Voltar à realidade... Sua cabeça ainda vagava um pouco. Voltar à realidade... Era o que mais lhe perturbava, voltar a realidade. Afinal de contas, tudo o que queria saber era se a raposa do rabo branco pertencia ao mundo, ou se era real apenas naquele sem número de recordações. Com a cara amarrada, sussurrou alguma coisa. Quem estivesse mais próximo ouviria um desanimado “que diferença faz?” Ora, Dr. Leonardo, faria toda diferença do mundo. Para a criança, a raposa é bem real. Para o Doutor, parece uma história de maluco... A criança e o Doutor não podem ficar discutindo assim... Para todos os efeitos práticos, então, o Dr. Leonardo fechou a terceira gaveta. Era melhor a criança ficar trancada lá mesmo.
Falando de Música 1

Cheguei de uma viagem rápida de trabalho, ontem. Cansado, para variar. Aproveitei, entretanto, para comprar alguns CD´s. Nada demais, algumas trilhas sonoras, bandas, e Tom Jobim, muito Tom Jobim.

É que desejava, já há bastante tempo, duas músicas que sempre tocam na minha cabeça: Querida e Falando de Amor. Consegui boas gravações e, ontem pela noite, já as ouvi dezenas de vezes, para a tristeza dos vizinhos. Falando de Amor, em especial, é de uma poesia que toca.

Também ouvi Chico Buarque, Meu Guri, e nosso Ministro, “Preto” Gil, cantando Andar com Fé (ele é melhor cantor, aliás, do que ministro). Esse pessoal sabe(ia) mesmo compor um som, embora pertençam há uma outra geração.

Mas há outros músicos muito bons – ainda que não geniais – de safra nova, que fogem da mediocridade atualmente dominante. Pouco tempo atrás, por exemplo, “descobri” o IRA, e me surpreendi, muito positivamente, com a qualidade do som e das letras.

Em suma: Não temos o que temer, a música brasileira continuará a ser – e digo isso com muito orgulho – uma das melhores do mundo. Basta conhecê-la.

Monday, June 19, 2006

A Day by the River
Estou extremamante cansado hoje. Segundas são sempre cheias de surpresas, e essa me serviu para lembrar como um dia intra-muros - isto é, aquele gasto dentro do escritório - pode ser extenuante, pesada. As Segundas-Feiras são ciumentas e egocêntricas. Exigem toda sua atenção e energia. Nada obstante, bom mesmo é dar uma espiada fora, de vez em quando, para ver o Sol ou sua cara-metade, a Lua.
Agora vou para casa, descansar. Tenho ainda um par de horas antes de me afundar na cama e sair do mundo. Isso me leva a pensar o que vou fazer. Acho que vou ficar no sofá. Como escrevi, a propósito, numa crônica, tempos atrás.
Grande abraço a todos.
Sentado no Sofá

Descobri que considero programa ficar sentado no sofá. Sério. Nem ler, ou escrever, ou assistir TV. Só sentando no sofá. Atingi um nível de conhecimento com o qual me considero razoavelmente culto. Quer dizer: Sei que sou ignorante, mas tenho bagagem para compreender qualquer coisa, se quiser. O problema é querer. Tento, na medida do possível, não me contaminar em excesso pela realidade. Literatura, em casa, só de alienação, registrando o fato que assim nomeio tudo aquilo que não tem nada a ver com a minha realidade.
A diferença entre o sofá e a cama é que sou demasiadamente sistemático para conseguir dormir no primeiro. Isso é fundamental: Se dormisse no sofá, o sofá não seria programa. Geralmente, fico no lusco-fusco, entre a lucidez e a loucura, entre o sono e a vigília, naquele estado em que não temos mais qualquer força para controlar o pensamento mas ainda sabemos o que estamos pensando, ou que o que estamos pensando é insano. Esse é o barato do sofá. Deixar o pensamento ir e vir. Meditação à maneira ocidental. De terno e gravata, meio vivo e meio morto, com o pensamento voando, no sofá. O sofá é o lugar da minha meditação, do meu relaxamento. Sinal dos tempos. Descobri que considero programa ficar sentado no sofá.

Saturday, June 17, 2006

Para onde?
Soube há pouco do falecimento do humorísta Bussunda. Fiquei arrasado. Adoro o seu tipo de humor, bem escrachado, bem brasileiro. É por isso que temos que celebrar a vida. Nunca sabemos da morte. Aliás, nada sabemos da morte.
Não acredito que a morte seja o fim. Que quando daqui vamos, não há nada. O nada não pode surgir do nada. Se o Espírito não existir, então, porque existimos? É dizer: Não deveríamos existir, mas existimos. Daí que além das coisas vivas há a própria vida. Podemos deixar de viver, mas será que podemos deixar de existir?
Saudades Bussunda.

Friday, June 16, 2006


É bom perceber a natureza. Melhor, porém, é sentir-se parte dela.
Hoje vou deixar uma crônica para vocês, que escrevi já há bastante tempo. Seu título é "Andando no Mato". Grande abraço a todos.
Ainda estava com sono. Minhas pálpebras não respondiam adequadamente aos meus comandos. Pior, meu olho parecia não querer focalizar nada, nada. Havia uma imprecisão nas luzes que chegavam à minha retina que só significava sono.
Mas não importava. Já eram 4 horas de uma tarde de verão. Desde depois do almoço estava entregue aos braços de Morfeu. As favas para o fato de que havia acordado de madrugada pela manhã. Precisava aproveitar o que restava do luminoso dia de verão. Deveria, portanto, dar um basta à preguiça de férias, e ir andar um pouco. Andar na Fazenda é sempre uma boa desculpa para ver animais. Desculpa porque, você sempre poderá dizer que foi andando que viu a cerca quebrada, o cocho sem sal, etc. Papai sempre me ensinou que mesmo no lazer, alguma utilidade deverá haver (será que lazer não é útil?). Uma lição muito pragmática. Ele é realmente muito pragmático. Quando anda pela fazenda (infelizmente quase sempre de camionete e às vezes de cavalo, nunca a pé) ele sempre vê alguma coisa a ser melhorada. Quisera ser assim. Deve ser coisa do tempo, de quando você tem que fazer dinheiro para pagar as contas. Meus olhos, ao contrário, querem se concentrar nos pássaros, nos bichos, nas plantas. Ainda não sei dizer quando um boi irá ter 18 arrobas, mais sei identificar pegadas de uma raposa (um dos meus bichos favoritos) na terra.
Pois bem, aquela figura desajeitada, magra, alta – eu – , de passos enormes, me afastava da sede enquanto estes pensamentos passeavam na minha cabeça. É sempre assim, quando eu ando na fazenda, as coisas todas vêm à minha cabeça. Cada passo se mistura a uma idéia e vice-versa.
Naquele dia, meus sapatos (pois é, sapatos de sola de borracha, não botas – muito desconfortáveis) afundavam na terra, que estava toda exposta, esperando o adubo abençoado para poder dar à luz de novo, dessa vez ainda mais vigorosa, com o capim ainda mais verde. Estava em cima do morro, bem em cima de uma nova curva de nível, indo ansioso para a mata lá em baixo.
Mas não havia pressa, percebi. Não estava na cidade. Nenhum compromisso. Nenhuma obrigação. Nenhum problema urgente para ser resolvido. Não é estranho como estamos tão acostumados com compromissos e problemas de toda espécie, que sequer prestamos atenção no mundo que nos cerca? Não prestamos atenção no Sol, na lua, nas estrelas, no mato, nos bichos, no próximo e na gente mesmo. Tudo é tão corrido.
A tarde talvez fosse tão azul, não fossem os problemas – já não disse algo parecido, o Carlos Drummond?
Andar no mato é uma lição de desprendimento. É saber se doar para a natureza. É saber ver a beleza dela. Nenhum egocêntrico gostaria de andar pela mata. Para ele não passaria de um exercício qualquer. Você tem que prestar atenção nas coisas ao seu redor. Ouvir de corpo e alma, saber prestar atenção nos detalhes e depois em você.
Há pessoas que, por onde passam, causam uma impressão profunda. Alteram o equilíbrio energético ao seu redor – para melhor ou não. Na mata, é justamente o contrário. Você, ao se ajustar ao ambiente, acaba fazendo parte dele. Sua luz e a da floresta passam a irradiar na mesma freqüência.
Assim é, que quase ao tropeçar numa pedra, por causa de sono, percebi pegadas na terra. Tatu, sem dúvida, e dos grandes. Segui o rastro, até a inevitável toca. Como ainda não estava “sintonizado”, o bichinho me percebeu e foi embora. Mas logo eu estava lá, agachado, na entrada da casa dele, tentando bisbilhotar sua vida privada ser convidado. Ao sujar minhas mãos com a terra, e sentir de perto o cheiro do chão úmido, percebi que já estava desperto e pronto para continuar meu passeio.
Então fui andar. Andei, andei muito. Fugi de alguns bois mal-encarados que me olhavam no caminho. Até que, de repente, já dentro do bosque, parei embaixo de uma árvore, onde, acima, um bando de gralhas gritava denunciando minha presença. “Que chato”, pensei, “Essas aves vão avisar toda a mata que estou aqui”. Parei, olhei para cima, vociferei algumas coisas para as gralhas, e decidi ir em frente. Dei um, dois passos, quando, de repente, vejo um filhote de veado-mateiro, mazama americana, bem à minha frente, parado. Parei na hora. Pareceu que o mundo todo parou. Meu coração quase saiu pela boca, e, para aumentar a tensão, as gralhas continuavam matracando. “Agora entendi essas aves...” O bichinho, na minha frente, imóvel, tentando se disfarçar com o ambiente, com a sua pelagem malhada. Olhei para os lados, calmamente. “A mãe deve estar aqui perto”. Olhei mas não a vi. Sabia que ela estava próxima, temendo pelo filho. Então, pousei o olhar novamente na criança, como que para me despedir. Não me lembro se fiz ou não uma oração, mas agradeci muito a Deus, por ter visto criatura tão bela. “É hora de ir, então. De acabar com esse sofrimento, que devo estar dando, a este animal.” Dois passos para trás, e um barulho enorme me assusta, bem à minha direita. Era a mãe dele. Fugiu assustada, quando começava a ir embora. Mal a percebi, por entre as folhas. Suspirei aliviado, me acalmei, e pedi, mentalmente, para que ela voltasse, que “tudo iria estar bem.” Não deve haver nada mais terrível para esses bichos, do que ver algum homem perto de sua cria. Ao ir embora, olhei uma última vez para a criança. Ainda estava lá, parado. Sorri. Indo embora, percebi que a mãe bem que pode ter disparado só para me chamar atenção, e desviá-la de seu filho. “Alguma estratégia para evitar predação”, imaginei. Mãe é bicho tudo igual, não importa a espécie!
Quando retornava para casa, percebi como estava cansado. E feliz. Muito feliz. Aliás, a felicidade era tanta, que mal compreendia onde eu terminava, e começava o mundo que me cercava.
Mas Deus me reservava outro presente. Tem uma árvore grande, embaixo do morro. Logo após a borda do bosque. Perto de um açude. Algum anjo suspirou para mim: Vai lá! Eu fui. A essa altura, a luz já se começava a despedir. Mesmo assim, bem pude ver o tatu-galinha que, despreocupadamente, fuçava embaixo daquela árvore. Enorme. Talvez o maior espécime de Dayspus noventicimos que tenha visto. Mal acreditei em minha própria sorte. Não estava em nenhuma reserva ecológica. Sorri interiormente. Daqueles sorrisos enormes, que só a pura gratidão pode dar. Após alguns poucos minutos olhando o tatu, voltei a subir o morro. Havia me esquecido do cansaço. Na sede, contei a novidade para os presentes. Era pura alegria. Foi muito bom se comprovar que os bichos estão crescendo e se reproduzindo ali. Mais do que isso, não é todo o dia que se sente um animal e, ao se certificar, bingo, percebe que o bicho está realmente lá. Deve ser coisa de Deus, ou alguma forma (ainda que branda) de esquizofrenia. Prefiro ficar com a primeira hipótese. Pensando bem, tanto faz. O importante é que os bichos ainda estejam lá. Para que meus passeios nunca sejam sozinhos.

Thursday, June 15, 2006

Capadócia, Turquia, final de 2005.
Viagens são sempre bem vindas para nos reencontrarmos. Não importa para aonde, pode ser até para Terenos, aqui do lado, o que importa é sair, de quando em quando, do seu ambiente dia-a-dia. É uma das melhores terapias. Eu sempre arranjo desculpas para viajar. Digo que que estou cansado, que quero conhecer um lugar novo, que estou com saudades de uma cidade, sim, tudo isso é verdade, mas não passa de desculpa. O que quero mesmo, ao entrar dentro do ônibus, ao subir no avião, ao pegar estrada, é me reencontrar. Conversar comigo. Por vezes até, fazer as pazes. Sim, porque, muitas vezes, guerreamos conosco. Aceitar e erros, perceber os acertos e, o mais importante, renovar a fé.
Minhas viagens são procissões de fé. Viajo para perceber a presença de Deus. Tudo bem, sei que não é necessário, Deus está em todo lugar e em todo lugar Ele pode ser percebido. Mas é o meu jeito. Viajens me ajudam bastante, a perceber a presença do Pai. Viagens boas são aquelas que você volta cheio de Deus.
E com um sorriso enorme no rosto.

Wednesday, June 14, 2006

Habitat Natural


Não se enganem. Esse sou eu no meu habitat natural.
Copa do Mundo
Essa época de Copa do Mundo é o máximo. Todo mundo de verde amarelo. Tudo bem que a seleção está longe de ser lá essas coisas mas, vá lá, o que importa é torcer. Acreditar. Se pudesse, admito, veria todos os jogos. Na Copa, até Togo x Arábia Saudita se torna jogo interessante. Sempre fui da opinião de que um pouco de alienação e euforia são necessários, e a Copa nos traz muito de ambos. Há também outros subprodutos agradáveis: A reunião dos amigos em casa, a abreviação do horário de trabalho, etc. Claro que você sofre ao ver o Brasil jogando mal, o Ronaldo se arrastando em campo, o Parreira acreditando em Papai-Noel, Coelhinho da Páscoa e quadrado mágico, mas o preço é pequeno em comparação às benesses.
Demais disso, a Copa também nos dá uma ou duas pistas importantes sobre o homem e a vida. Primeiro: A inimaginável e despercebida capacidade humana de valorizar, emocionalmente, coisas sem nenhuma importância. Penso que, se nos dá alegria, temos mais é que valorar, com sentimentos, o futebol ou qualquer outra coisa mesmo. O segredo é perguntar se nos faz feliz. Igual as miniaturas dos cavaleiros medievais que tenho lá em casa, ou este blog... Não tem nenhuma importância, mas me fazem feliz. Segundo: Como muito da vida é acreditar e torcer. Sério, não temos controle sobre nada, nem sobre a hora de ir ao banheiro. Então, vou acreditar que irei ter vontade de ir ao toalete apenas quando tiver tempo! Não vou me estressar com isso... Pensando bem, é a regra da vida, vamos fazer nossa parte, e que Deus cuide do resto. Racionalmente, um time com Ronaldo e Adriano não pode ganhar nem do Palmeiras - time do meu coração - mas, para que me incomodar, vou torcer (é minha parte, o que tenho que fazer) e deixar pra lá. Outra coisa é como um sentimento nos torna todos irmãos. Essa é a coisa mais linda. Somos todos irmãos de torcida. Irmãos no verde e amarelo.
Essa época de Copa do Mundo é o máximo mesmo. Todos com a bola de futebol no coração.
Muitos gols para nós!

Monday, June 12, 2006

Ek Theos Basileus Romeon - Em Deus, o Imperador Romano.
Pois é. Decidi aderir aos blogs. Havia tempo que sentia vontade de escrever sobre as coisas que gosto: Direito, Política, História, Bichos. De registrar, também, alguns pensamentos e emoções. O blog é um pequeno retrato da nossa vida racional e emocial. Bom, pelo menos é isso que quero que seja este blog aqui. Um pequeno diário ilustrado, do meu mundo, do meu reino.
Minha vida, meu reino. O dom supremo de Deus, que nos dá um império.