Friday, July 27, 2007

Imagem de um Cachorro do Mato Vinagre, em habitat natutal.

Criptodoideras

Meus cinco leitores me admoestam porque já não escrevo tão frequentemente neste blog. Não é por falta de vontade. Há quatro ou cinco assuntos cuja opinião gostaria de publicar. Certamente o eventual leitor perdoará a prioridade outorgada ao trabalho, e a preguiça que me domina no tempo restante.

Uma das coisas de que gostaria de falar é sobre a descoberta do Professor Aharoni. Permitam-me...

Em 1839, o britânico George Robert, da Sociedade Zoológica de Londres, conseguiu as peles de uma espécie não identificada de roedor encontrada no Oriente Próximo, na região de Allepo, na moderna Síria. Do raro animal a civilização só conhecia as peles.

Quase cem anos depois, em 1920, um zoólogo da Universidade de Jerusalém, Professor Israel Aharoni, indagava-se se aquelas peles eram de um animal conhecido dos antigos assírios, descrito em documentos em aramaico e hebraico. Neles, falava-se de um bicho de estimação, mantido em casa pelas crianças, cuja carne era razoavelmente apreciada.

Entretanto, não havia qualquer descrição científica sobre o animal, que pensava-se extinto. Intrigado e não acreditando que o roedor pertenceria ao mundo dos fósseis, o Professor Aharoni resolveu arriscar sua reputação e partir em expedição para a Síria, ver se achava alguns exemplares vivos da criatura.

Dez anos depois, e somente com a ajuda de um guia local (Georgius Khalil Tah´na), provou o Professor que não estava louco. O animal ainda existia, e dele se capturaram três exemplares, duas fêmeas e um macho. Era, de fato, um bicho muito dócil e encantador: O hamster.

Todos os milhares exemplares domésticos e de pesquisa do hamster comum descendem daqueles capturados pelo Professor Aharoni. Na natureza, porém, o hamster continua sendo uma raridade: Voltaram-se a capturar exemplares selvagens apenas na década de 70.

Há dezenas de outros casos de animais lendários e pretensamente extintos que reapareceram, para a alegria de gente como eu. O mais famoso talvez seja o Celacanto, uma espécie primitiva de peixe, uma verdadeira relíquia biológica que habita o planeta há 400 milhões de anos, descoberto vivente em 1938, ao ser capturado em águas profundas no mar índico.

Curioso também é o caso do gorila-da-montanha, que era tido pela comunidade científica como lenda até ser incidentalmente descoberto por alemães em 1902. De repente, notou-se que as notícias de um hominídeo gigante oriundo das montanhas-florestadas da África não eram só história de pescador.

Há casos no Brasil também, vários.

Um deles é do cachorro-do-mato-vinagre (Spheotos venaticus), bicho dos mais interessantes. Das seis espécies de cachorros selvagens brasileiros, é o único que vive em matilhas, e que tem as membranas das patas ligadas, para poder nadar melhor! Muito bacana para um bicho que passa a maior parte do tempo em buracos no chão! Nada obstante suas esquisitices, é animal adoravelmente belo, e absolutamente raro, mesmo nos locais onde se sabe ainda presente.

Pois bem, até apreenderem um vivo no interior de Minas Gerais, em 1910, esse canídeo era tido como fóssil, mais um daqueles animais que se extinguiu em tempos recentes, como o tigre-da-tasmânia ou o dodô. Ou a preguiça-gigante... Bom, a preguiça-gigante...

Muita gente do interior do Amazonas afirma que ainda existem preguiças-gigantes, que já as viram, etc... Conheci uma. Os índios até tem um nome para este animal, mapinguari. Seria possível, no mundo devastado e poluído de hoje?

Tome-se como exemplo a reportagem seguinte, de 2004:

Maior espécie de porco-do-mato é descoberta da Amazônia
A descoberta de uma nova espécie de porco selvagem, muito maior do que as conhecidas, é a mais recente prova da imensa biodiversidade da Amazônia. O porco, chamado de caititu-mundé, foi descoberto pelo primatologista e especialista em biogeografia Marc van Roosmalen, holandês naturalizado brasileiro, há 30 anos no Brasil.
Roosmalen é famoso por suas descobertas de novas espécies de macacos amazônicos e em 2000 foi considerado um dos Heróis do Planeta da revista "Time" devido suas contribuições ao meio ambiente.
O caititu-mundé é motivo de surpresa por ser muito maior do que as três espécies de porco-do-mato conhecidas nas Américas do Sul e Central. Ele chega a 1,3 metro de comprimento, quase o dobro dos outros porcos selvagens encontrados no Brasil e mais do que a maior espécie conhecida até então destes animais, o porco-do-mato-do-chaco, que não existe no Brasil.
- Ele também é mais esbelto, tem pernas longas e é bem mais magro que as outras espécies - diz Roosmalen.
Além disso, segundo o cientista, o animal tem hábitos diferentes dos demais catitus ou catetos. Diferentemente deles, ele não anda em bandos, mas em casais.
Lugar: Web Fonte: globo.com Data da Notícia: 15/06/2004’

Já se vê que a descoberta de grandes mamíferos ou aves, ainda que difícil e improvável, não é impossível. Noutras palavras, não conseguir provar que há, não é provar que não há. Excelente lição essa, especialmente para aqueles dias em que achamos difícil perceber Deus ou o Seu Amor.

PS1: Criptozoologia é o nome da ciência que se dedica a estudar animais extintos.
PS2: Ao contrário do tigre-da-tasmânia, do dodô, ou da preguiça-gigante, a existência do pé-grande e do monstro do Ness nunca foi comprovada pela ciência.
PS3: Pesquisadores alegaram ter descoberto, em 2004, uma nova e “gigante” espécie de porco-do-mato no interior da Amazônia. A descoberta, em si mesmo, é sensacional, mas é preciso haver confirmação da comunidade científica, já que há o perigo de fraude.
PS4: Já foram realizadas várias expedições atrás de uma preguiça-gigante “viva” (fósseis e ossos são sempre encontrados), mas, todas infrutíferas. O máximo que se consegue é depoimento de gente que afirma ter visto a criatura.